Seria uma campanha milionária. É, seria. É coisa de muita verba quando se passa duas horas tomando expressos italianos com a diretora de marketing da grande corporação que eu não estou autorizado a dizer o nome por nada nesse mundo, saus pernas se cruzando, se descruzando, e o tique de puxar a saia, além dos meus três patrões de terno com tênis e meias do patolino, olhando disfarçadamente para as prateleiras que ostentam seus troféus de melhor alguma coisa do ano. Essa minha profissão, é a profisão de dourar a pílula, eu pensei, e não importa se o assunto é desodorante para axilas desidratadas ou imóveis de três quartos com paredes de gesso e espaço gourmet.
(...)
Mandaram vir o café e alguns biscoitinhos feitos artesanalmente por alguma socialite entediada (há quem pague). Depois de algum comentário cordial referente ao delicioso e sutil sabor de canela, um toque de gengibre talvez, a diretora de marketing da grande corporação que não devo revelar o nome começou a falar. E falava na verdade tudo que já sabíamos, apontando para um slide-show que, como sempre, não funcionou na primeira tentativa. A pronúncia forçada, saindo dos seus lábios refeitos em cirurgia plástica, lembrava uma aula ruim de fonética.
Carol Bensimon, Sinuca embaixo d’água.
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