Letras, aparentemente, também saem de moda. Sem que houvesse um acordo ortográfico específico, em algum momento do século XIX impressores desistiram de usar o S longo, e não os culpo (o Diccionario da Lingua Brasileira de Luiz Maria da Silva Pinto, de 1832, já não registra mais o uso) . Na versão minúscula regular, a letra é praticamente idêntica ao f minúsculo (⌠ ), exceto pela ausência do “braço”, aquele raminho no meio que caracteriza o f. Em alguns casos, o S longo possui apenas o “braço” esquerdo, e não cruzado como no f, o que deixa ainda mais confuso (ou seja, alem de tudo, é maneta). Ao menos, na versão em itálico, ele fica mais parecida com o que se espera de um s ( ∫ ).
A aplicação do S longo é ainda mais confusa: a princípio, ele era utilizado quando a letra “s” minúscula vinha no começo ou no meio da palavra, mas não no fim (nesse caso, se usava o “s” minúsculo como ele é hoje). Na abertura da frase, valia o S maiúsculo de sempre.
O resultado disso é que, ao se ler um texto impresso no século XVIII, a impressão que eu tinha era que todos os narradores eram fanhos (uma impressão que passei para um dos meus personagens). Contudo, após alguns testes, acabei usando o S longo em alguns trechos muito específicos do livro (três, ao todo), em que se reproduz o português do século XVIII. Imagino que o leitor terá que ler esses trechos muito devagar, como uma criança sendo alfabetizada (ou, como eu fiz no começo, imaginar que o narrador ficou fanho, o que é sempre válido). Não sei dizer se algum livro em português usou o S longo nos últimos cem anos, mas é um risco bom de se correr.
Pode-se fazer um teste com esse trecho abaixo, retirado da abertura de Viagens d’Altina, escrito por Luiz Caetano de Campos – um livro que pode ser melhor descrito como a resposta portuguesa, ainda no século XVIII, para as Viagens de Gulliver.
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