Quando criança, eu ganhava muito brinquedo. Os anos oitenta foram uma época ótima para se ser criança: foi a década dos desenhos animados lançados para promoverem linhas de brinquedo. E de todas as opções possíveis, a que eu mais ganhava eram Comandos em Ação. Em grande parte, meu maior divertimento era montar os veículos quase tanto quanto brincar com eles. Ainda tenho todos os bonecos guardados em algum lugar, polegares quebrados e arminhas perdidas. Na mesma época (segunda metade da década de oitenta), meu pai comprou uma filmadora (importada de Rivera, é claro) e, como todo mundo que se deslumbrava com a primeira filmadora, filmava de festa de família a banalidades cotidianas sem muito critério. Uma das minhas mais nítidas lembranças era de montar um “cenário” de bonecos e encenar uma pequena guerrinha de Comandos versus Cobras, meu pai filmando tudo, imaginando que o sofá verde de três lugares da sala de estar era um daqueles cenários elaborados que apareciam nas propagandas e que, pra minha decepção, não existiam a venda em lugar nenhum. Outra opção, que requeria certo planejamento prévio de cerca de 12 horas, era colocar um boneco dentro de um copo d’água, botar no congelador, e depois desenformar: a missão seria resgatar o colega congelado em carbonite. Geralmente, eu brincava sempre fechando o olho esquerdo, para que o direito funcionasse como a “câmera”, o que requeria certo contorcionismo e malabarismos para que eu me colocasse no ângulo certo para “enquadrar” a cena que eu queria criar. Minha relação com cinema começou por aí.
Tudo isso pra dizer que Comandos em Ação desempenharam um papel afetivo tão pertinente na minha vida, que dificilmente eu sairia frustrado desse filme. Não que o filme seja bom, pelo contrário.
O filme é muito ruim.
Mas (um longo "mas"), ao contrário de Transformers 2 (um filme tremendamente arrogante e mimado, e eu ainda não encontrei ou não inventaram o adjetivo certo que defina esse filme), G.I.Joe é um filme ruim facilmente definível: o clássico roteiro absurdo e cheio de furos, atores desconhecidos despontando para a canastrice (Channing Tatum, de que buraco brotou você? Futuro astro de ação de filmes direto-para-vídeo?), efeitos especiais duvidosos e direção desconjuntada e sem ritmo (o uso desnecessário de flashbacks acaba criando um efeito tão cômico que cheguei a pensar que qualquer zé mané que cruzasse a tela teria um trauma do passado pra exorcizar em vinte segundos). Refilmaram Team América em live-action sem entender que era pra ser uma comédia. É tão fácil listar as falhas do filme, que não vejo sentido em fazer isso. O diretor parece ter um absoluto desconhecimento dos clichês mais batidos de qualquer filme de ação dos últimos vinte anos, e os filma como se fossem grande novidade. Ou seja, G.I. Joe carinhosamente se encaixa na categoria do filme ruim cafona - para uma categorização dos filmes ruins, podemos listar o medíocre (Wolverine, por exemplo), o desastre-da-pretensão-artística (The Spirit), o sem-talento-para-tanta-pretensão (qualquer filme do Michael Bay), entre outros).
Então, por mais que eu tenha achado o filme ruim, não saí irritado do cinema, como geralmente acontece nesses casos. Fiquei pensando que, se eu tivesse 10 anos, teria sido o filme da minha vida – como quando fui no cinema com meus pais assistir Mestres do Universo (1987, seis anos) e achei o melhor filme de todos os tempos da história do mundo (até porque foi o primeiro com “pessoas-de-verdade” que assisti num cinema) – opinião que mudaria dois anos depois, quando assisti o primeiro Batman.
No final das contas, fico pensando se um filme de ação B como G.I.Joe não está honrando melhor o material de origem do que se tivessem feito desse filme um outro Cavaleiro das Trevas.
10 comentários:
samir, poucos tem tua habilidade de lembrar e descrever a própria infância!
quanto ao filme, já consegue ser cafona desde o título "GI JOE - The Rise of Cobra" hehehehe no Brasil pelo menos podiam ter deixado Comandos em Ação.. bem melhor q GI Joe. validaria um pouco mais a sessão hehe
Penso como terá sido em Portugal, que tende a preferir titulos mais literais. "G.I. Joe: o Erguer da Cobra"? Ou "G.I. Joe: a Cobra levanta?"
Eu também brinquei muito com os bonecos dos Comandos em Ação durante a minha infância e essa caraga nostálgica poderia muito bem ter influênciado minha impressão sobre o filme. Mas o efeito foi totalmente oposto a esse... eu achei o filme ruim em todos os aspectos que poderia!
Só tem uma cena que eu posso dizer que achei mais ou menos.. e olhe lá! Ela nem é tanto assim... O filme é fraco, tem efeitos especiais ruins, atores péssimos e uma direção completamente perdida no ritmo! Nem a trilha colnsegue arrancar um pouquinho de emoção! Mas também não me arrependo de ter visto o filme porque é só vendo esse tipo de filme que a gente para para valorizar aqueles que relmente fazem valer o ingresso!
Estranho seria se tu gostasse, né? (In)felizmente a gente cresce e vê certas coisas com outros olhos. Mas acho que sempre foram assim, na real. Esses dias reassisti Pretty in Pink do John Hughes e achei uma bomba.
Poisé, tenho medo de reassistir alguns favoritos de infância e adolescência e perder a boa imagem que tinha deles por isso. Mas há filmes que se mantém.
É, o Ferris continua divertido. :)
Ops, o Pretty in Pink não foi dirigido pelo Hughes, "só" escrito.
Três conclusões sobre o filme do GIJOE:
- É um filme pra crianças;
- As vezes subestimam as crianças;
- Me deu medo com o que podem querer fazer com um possível filme dos Thundercats;
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