quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Projeto tijolão do semestre #1

Um medo que eu tinha, quando comecei a ler essa biografia do Hitler escrita por Ian Kershaw e lançada pela Companhia das Letras no finzinho do ano passado, era que algum aspecto da magnitude que a figura do sujeito tomou, dentro do século XX, pudesse ser digna de respeito. Pelo próprio peso histórico que ele possui (afinal, é Hitler, o nazismo, a Segunda Guerra, o que define o século XX e enterra definitivamente a mentalidade, os valores, todo o modo de ser do séxulo XIX).
Mas não: nas primeiras 150 páginas (de umas 1004), a figura que surge é de um sujeito patético, obtuso, profundamente pedante - no sentido mais literal de quem arroga para si um conhecimento que não só não possuía como tinha preguiça em adquirir (e preguiçoso não só intelectualmente, também não gostava de trabalhar e vivia de rendas familiares) - que, ao menos no começo, chegou até onde chegou menos por méritos próprios e mais pelo contexto social e político da sua época.
Até agora o Hitler de Kershaw se mantém uma leitura fluída, fascinante e hipnótica justamente por isto: mostrar como o momento da Alemanha e do mundo da época – um mundo paranóico, simplista e, no caso da Alemanha, com um ego grande e um orgulho proporcionalmente ferido - permitiu que um homem que já era desde o princípio uma caricatura de si mesmo, a Sarah Palin de seu tempo, chegasse onde chegou.
E segue a novela, que ainda tenho mais 750 paginas pela frente.

2 comentários:

Elmo disse...

Esse do Hitler pede para ser lido mesmo...
Estou na metade do "O outono da Idade Média", que - sem ter nenhum interesse específico pela cultura medieval - comprei somente porque este livro é espetacularmente lindo. Existe uma satisfação egocêntrica ao se temina a leitura de um tijolão que é inigualável, não?

Samir Machado disse...

Oi Elmo,

Poisé, eu estive à beira de comprar O Outono da Idade Média também, apenas por achar o livro lindo (e quase comprei de impulso o Vertigem das Listas do Umberto Eco).

O mais perto que consigo imaginar de chegar ao fim de um tijolão, é com assistir o ultimo episódio de uma serie que se acompanha a tempos. Tem um quê de "longa jornada que chega ao fim" que é uma sensação inigualável.

Abraço,
Samir

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