segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Desculpe por entreter

Então que tenho em mãos um exemplar da revista Meia-Noite, comprado no brique da Redenção há uns três anos atrás, e que muito me serviu como referência para a diagramação dos primeiros Ficção de Polpa (em especial a coisa de ter o texto dividido em duas colunas). Nunca li, mas enquanto folheava dia desses, me deparei com a página de apresentação dos editores, praticamente uma carta de intenções muito formal e sincera.
Pois calha que o exemplar é justamente o número 1, datado de maio de 1948, e que, por causa disto, vem com um texto introdutório, dos editores da revista, que serve como uma carta de intenções de sua proposta editorial. E, 73 anos depois, reflete (e muito) também um pouco das intenções editoriais da coleção Ficção de Polpa, exceto que não vejo nenhum sentido em quase pedir desculpas por entreter o leitor, embora sempre haja quem considere a idéia de “entretenimento” uma coisa menor, em termos artísticos, esquecendo que toda arte é, em maior ou menor escala de sofisticação, uma forma de entrenimento.
Então, já que mês que vem a Não lança Ficção de Polpa - Crime!, cuja proposta não difere muito desta outra feita a sete décadas atrás, sgue abaixo o texto em que, apesar dos esforços contrários do corretor automático do Word, tentei manter com a acentuação original:


“Meia-Noite” aos seus leitores:

Quando se pensa um instante na confusão crescente e nos problemas múltiplos e angustiosos que atormentam o homem dos nossos dias, a utilidade, ou melhor, a necessidade de uma revista como esta que hoje lançamos à publicidade ressalta claramente. Não se julgue com isso, porém, que pretendemos apresentar “MEIA-NOITE” como uma porta de evasão dos problemas modernos, um anestésico para as angústias, ou, sequer, como a areia onde o avestruz esconde a cabeça para esconder-se da aproximação do caçador. Isso seria uma aspiração pretensiosa, por um lado, e perniciosa, pelo outro, porque ainda julgamos que a melhor maneira de livrar-se dos problemas é encará-los de frente, para enfrentá-los e vencê-los. Não, o papel que escolhemos é mais modesto e também mais prático e útil. “MEIA-NOITE” quer ser apenas um breve momento de feriado que se poderá levar cômodamente no bolso, para reduzir a alguns minutos a meia hora de espera numa fila, para encurtar as distâncias numa viagem de ônibus ou de trem, para transformar num tranqüilo “week-end” a exausta conclusão de um dia de trabalho.
Norteados por êsse propósito, foi que procuramos dar a “MEIA-NOITE” o formato cômodo e as características de variedade que a distinguirão, numa seleção escupulosa de contos de mistério, de aventuras, de emoção, que trataremos de tornar mais empolgantes e farta de número para número.
Eis ai o que pretendemos fazer e até onde vai a nossa parte. O resto, que é muito mais importante, dependerá dos leitores, quando, depois de seguir a pista absorvente de um mistério ou acompanhar as peripécias de uma aventura, acharem que realmente conseguimos os nossos objetivos e resolverem cooperar conosco.

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