"– Nesse momento, enquanto conversamos, sentados aqui, praticamente ninguém no mundo viu um dinossauro. Ninguém sabe qual seu aspecto verdadeiro. Os dinossauros que temos agora são reais – Wu disse, apontando para as telas na sala. – Mas em alguns aspectos são insatisfatórios, pouco convincentes, podemos melhorá-los. Por exemplo, eles se movem muito depressa. As pessoas não estão acostumadas a ver animais grandes tão ágeis. Temo que os visitantes pensem que os animais são muito acelerados, como um filme passado muito rápido.
– Mas Henry, estes dinossauros são reais, você mesmo falou.
– Eu sei – Wu assentiu. – Mas poderíamos fazer animais mais lentos, domesticados.
– Dinossauros domesticados? – Hammond fez uma cara de desdém. – Ninguém quer ver dinossauros domesticados, Henry. Querem bichos de verdade.
– Mas o problema é exatamente esse. Não creio nisso. Querem ver o que esperam, e só. Você mesmo disse, John, o objetivo deste parque é o entretenimento. E divertir as pessoas não tem nada a ver com a realidade. O entretenimento se opõe à realidade".
Michael Crichton, Parque dos Dinossauros.
* * *
Tá, eu deveria dizer que tomei gosto pela leitura lendo Borges ou Cortázar. Numa hipotética entrevista futura, direi “sim, quando eu li Stendhal aos 10 anos...”. Mas a real é que ganhei um exemplar de “Parque dos Dinossauros” aos 11 e, vindo de uma dieta de leituras de Pedro Bandeira e Maria Heloísa Penteado, toda aquela coisa de dinossauros, sangue, teorias científicas do qual eu não entendia bulhufas mas me pareciam muito convincentes, mais sangue, seqüências de ação que me faziam virar as páginas feito um viciado, mais sangue, tudo aquilo me impressionou de um modo que nenhum livro fez antes - ou melhor, de um modo que eu não achei que um livro poderia fazer (também virei um fanático por dinossauros, mas isso não conta, acho que todo guri em algum momento, especiamlente nos anos noventa, teve uma fase de interesse por dinossauros, e isso ao menos me fez ler Ray Bradbury sem nem saber quem ele era, simplesmente por ter um livro seu chamado "Contos de Dinossauros"). Desde então, todo ano eu ganhava de aniversário ou natal um novo livro de Michael Crichton, devorado em tempo médio de três dias de leitura. E tudo tão cheio de notas de rodapé e referencias bibliográficas, que por algum tempo eu realmente acreditei que “Congo” era baseado em fatos reais, ou que “Devoradores de Mortos” era uma transcrição de documentos históricos, graças às introduções que ficavam tentando me convencer de que aquilo tudo era a transcrição de um caso real, abafado antes de vir a público (eu tinha doze, no máximo treze anos! E não existia internet!).
Michael Crichton morreu anteontem, de câncer, deixando um livro ainda por publicar, no mesmo dia em que Obama se elegeu, e que a Não Editora teve três livros indicados ao Açorianos. Não sei vocês, mas foi uma quarta-feira bem intensa pra mim, pelo menos.
Um comentário:
Pois é, Samir, parece clichê, mas às vezes uma coisa morre para outra nascer.
Parabéns mais uma vez pelos Açorianos!
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