segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Leituras de 2010

Essa lista não tem nenhum critério específico, apenas uma contagem das leituras feitas nesse ano, incluindo graphic novels. Tinha me imposto a meta de ler 3 livros por mês, o que é bem pouco, mas precisei abrir espaço na minha vida pro Playstation 3. Deveria ter usado esse blog melhor, pra comentar ao longo do ano algumas dessas leituras, mas paciência. Destaco apenas cinco livros que me deram "level up" nesse ano, e as razões para isso.
Orgulho e Preconceito da Jane Austen, lido numa daquelas edições clothbound da Penguin. Aula de sensibilidade no registro de costumes e na construção de personagens adoráveis, e das nuances delicadas de sentimentos entre eles;
The Wild Boys do William Burroughs, um violento delírio sexual gay pós-apocaliptico, sobre guerrilheiros adolescentes contra uma sociedade decadente e hedonista, e também um delírio estético de não-linearidade e justaposição de narrativas. Curiosamente, tentei ler o Almoço Nú na sequência e achei um porre, tanto que larguei lá pela página 50.
O Filho da Mãe, Bernardo Carvalho. Fui descobrir os livros do Bernardo Carvalho com atraso, pela dica de um amigo: "lê o Nove Noites". Li, gostei e li outros três, do qual o Filho da Mãe acabou de destacando talvez pela intensidade visceral do clímax, mas os elogios que posso fazer a um, posso fazer a todos os demais (Mongólia e O sol se põe em S. Paulo): o olhar de "viajante mal-humorado", ao mesmo tempo interessado nos detalhes culturais estrangeiros mas nem por isso condenscendente, o jogo de projeção e identificação entre personagens duplos, todos temas que me interessam bastante. Tive um daqueles raros momentos de conexão emocional em que parece que o livro foi escrito especialmente pra agradar meus gostos particulares.
O Barão nas Árvores, Ítalo Calvino. Uma idéia absurda desenvolvida numa narrativa realista e explorada com tremendo timing cômico, como forma de discutir o poder transformador da leitura. Tudo isso é muito legal, é muito bonito, mas o que realmente me cativou nesse livro foi o perfeito timing cômico de Calvino - nos diálogos, na narração, quase o ritmo de um episódio de Looney Tunes com a sensibilidade inocente de um filme Disney (um elogio que posso extender aos outros dois livros que formam a trilogia "Nossos Antepassados", O Cavaleiro Inexistente e O Visconde partido ao meio, mas este aqui me pareceu o melhor dos três).
Jurassic Park, do Michael Crichton. Aos onze anos, peguei gosto pela leitura com os thrillers de Crichton. Revisitar meu livro favorito de infância 17 anos depois foi, de certa forma, um guilty pleasure: Crichton tem todos os vícios de linguagem que se espera de um escritor de best-sellers, mas é um storyteller excelente, atento a detalhes e com um olhar surpreendentemente autorreflexico ao inserir, dentro de um livro com uma preocupação assumidamente comercial, uma discussão sobre os limites da verossimilhança frente à expectativa do público. Redescobrir isso onde eu esperava encontrar apenas uma versão moderna de "aventura para garotos" ou, no pior caso, apenas mais um de muitos "thrillers best-sellers" dos anos oitenta-noventa, foi a melhor parte da leitura.


E segue a lista:
Manhood for Amateurs, Michael Chabon (Harper Collins)
Tudo o que fizemos, Carlos André Moreira (Leitura XXI)
Pride and Prejudice, Jane Austen (Penguin)
Alice no País das Maravilhas, e Através do espelho e o que Alice encontrou lá, Lewis Carrol (Zahar)
Contos de Horror do Séc. XIX, org. Alberto Manguel (Companhia das Letras)
The Wild Boys - A Book of the Dead, William S. Burroughs (Penguin)
História da Vida Privada no Brasil - Volume 1, Fernando Novais (Companhia das Letras)
O Cavaleiro Inexistente, Ítalo Calvino (Companhia de Bolso)
Um Homem Só, Christopher Isherwood (Nova Fronteira)
Jimmy Corrigan - O Menino Mais Esperto do Mundo, Chris Ware (Companhia das Letras)
Bonequinha de Luxo, Truman Capote (Companhia das Letras)
Dedo negro com unha, Daniel Pellizzari (DBA)
O livro das mil e uma noites vol. 3, Mamede Moustafa Jarouche (Globo)
Scott Pilgrim contra o Mundo v.1, Brian Lee O'Malley (Quadrinhos na Cia.)
Fup, Jim Dodge (José Olympio)
O Centésimo em Roma, Max Mallman (Rocco)
Os dias da peste, Fábio Fernandes (Tarja Editorial)
Os dentes da delicadeza, Éverton Behenck (Não Editora)
O mercador de Veneza, William Shakespeare (L&PM)
_não contem com o fim do livro, Umberto Eco e Jean-Claude Carriere (Record)
Cachalote, Daniel Galera e Rafael Coutinho (Quadrinhos na Cia.)
Morango Sardento, Julianne Moore (Cosac & Naify)
A Águia de Sharpe, Bernard Cornwell (Record)
Os Pássaros, Camille Paglia (Rocco)
Anjo das Ondas, João Gilberto Noll (Scipione)
Como se moesse ferro, Altair Martins (WS Editor)
Tieta do Agreste, Jorge Amado (Companhia das Letras)
A Travessia, Cormac McCarthy (Companhia das Letras)
O único final feliz para uma história de amor é um acidente, João Paulo Cuenca (Companhia das Letras)
A sordidez das pequenas coisas, Alessandro Garcia (Não Editora)
Nove Noites, Bernardo Carvalho (Companhia de Bolso)
Port of Saints, William S. Burroughs (Blue Wind Press)
O Filho da Mãe, Bernardo Carvalho (Companhia das Letras)
O barão nas árvores, Ítalo Calvino (Companhia de Bolso)
Estive em Lisboa e lembrei de você, Luis Rufatto (Companhia das Letras)
Mongólia, Bernardo Carvalho (Companhia das Letras)
O visconde partido ao meio, Ítalo Calvino (Companhia das Letras)
O sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho (Companhia das Letras)
Scott Pilgrim contra o Mundo v.2, Brian Lee O'Malley (Quadrinhos na Cia.)
Jurassic Park, Michael Crichton (Knopf)
Masters of Cinema: Steven Spielberg, Clélia Cohen (Phaidon)
The Lost World, Arthur Conan Doyle (Penguin)

Um comentário:

Rafael Barletta disse...

te admiro

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