Em uma ocasião, Gil Bráz emprega-se na casa de uma artista de teatro, Arsênica, que reune em seu círculo toda sorte de artistas de língua afiada, ocasião que serve pro jovem Gil Bráz tirar certas conclusões sobre o mundo:
"Para mim os artistas eram conhecedores das peças como os joalheiros das jóias, e o fato de verem triunfarem ou naufragarem as peças condenadas por eles, as que consideravam ótimas não abalavam minha confiança no seu julgamento, provaram-me até mais de uma vez que as críticas deles deveriam ser intepretadas as avessas.
Tive a oportunidade de ver o acerto dessa afirmação com a tragédia de Pedro de Moya, a qual teve um êxito ruidoso apesar das zombarias com que fora acolhida na leitura. O mesmo aconteceu com uma comédia que eles declaravam péssima e que, no entando, arrancou aplausos frenéticos do público. “Como diabos podem ter gostado dessa baboseira?”, comentavam ao terminar do espetáculo. Um comediante, muito ingenuamente, declarou que o êxito da comédia era devido ao fato, com certeza, da peça conter numerosos ditos de espírito que eles não tinham percebido.
Perdi a convicção na infalibilidade da crítica atribuída aos artistas e comecei a perceber-lhes todos os defeitos: eram levianos, superficiais e dissolutos. Porém, como eu era muito moço e inexperiente, aquela vida agradava-me e me seduzia por suas exterioridades brilhantes, embora minha consciência me ponderasse que tudo aquilo era pernicioso para mim."
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