quarta-feira, 20 de julho de 2011

E então que eu estava aqui

Fui à Machu Picchu. Não há o que se falar da cidade, é uma experiência bastante pessoal, e vamos deixar as descrições para os guias turísticos. Não que seja algum tipo de experiência mística ou coisa do tipo, não tenho nenhum pendor para esse tipo de coisa (há em Machu Picchu uma pedra, a Intihuatana, que dizem emanar "energia" e os guias orientam a colocar a mão sobre a pedra, sem tocá-la. É só o calor absorvido pelo sol, se tanto). Ou, colocando em termos objetivos: não cresci lendo complexas novelas metalinguisticas ou delicados dramas intimistas, cresci lendo Tio Patinhas, assistindo filmes do Spielberg, lendo best-sellers do Michael Crichton como Congo (o livro é muito mais interessante que o filme, acredite). Minhas primeiras experiencias em criar uma narrativa de ficção envolviam, necessariamente, selvas e cidades perdidas.
E então, aqui estou eu andando entre as ruínas de uma cidade perdida, escondida entre as núvens no topo de uma montanha no meio da selva, entre escadarias de pedras que dão para abismos mortais (me admira que turistas não despenquem o ano todo daquelas passagens estreitas), e no qual cheguei após embarcar num trem, o Hiram Bingham, que parece saído de uma fase de Uncharted 2 mas com um interior luxuoso à lá James Bond, atravessando uma paisagem épica de montanhas e campos e selvas que só consigo descrever com uma palavra: widescreen (há um carro-bar no trem, com um livro de visitas, onde, em alguma das paginas, alguém escreveu "E então que eu estou num bar, dentro de um trem, na América do Sul". Tirando o detalhe que da América do Sul eu nunca saí, compreendo totalmente a empolgação do sujeito. Não é apenas a empolgação, bem infantil, confesso, de se sentir integrado à paisagem de uma história de aventura, mas a lembrança de que um dia alguém realmente subiu até aqui, vencendo o cansaço e o clima, descobriu as ruínas de uma cidade perdida no topo das montanhas e, de Hiram Bingham a Percy Fawcett, ou de Indiana Jones a Nathan Drake, criou a base das histórias de aventura reais e fictícias que povoavam minha imaginação e despertaram minha curiosidade pelo mundo.

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