segunda-feira, 3 de maio de 2010

Fantasma das leituras passadas

Numa comparação gamer, eu sei que um livro (ou um filme) me agradou num nível muito mais profundo do que o mero “curti”, “não curti” quando fico com uma sensação interna de LEVEL UP. Em algum momento de 2008, fiquei com a impressão de que não vinha aproveitando bem meu tempo dedicado à leitura, e pedi a alguns amigos que me fizessem listas de dez livros que, no julgamento de cada um, pudessem significar algo pra mim, baseado no que significou pra eles. Ainda que isso configure a pertinência dessa listagem como meramente pessoal, vale o registro. Abaixo, vai a lista de sugestões que o Antônio Xerxenesky me fez, resgatada das profundezas do histórico do gmail, e que guiou parte das minhas leituras entre 2008-2009.



1. Trilogia de Nova York, Paul Auster
Antônio: sinto muito... (Nota: eu não tinha nenhum interesse em Paul Auster e nada do que lia sobre ele me fazia ter).
Eu: Acabei lendo no final de 2008. Estaria mentindo se dissesse que me empolguei com a leitura. Minto: O Quarto Fechado foi a única história que me disse alguma coisa, e isso únicamente pelo personagem de Fanshawe, o único que parece se comportar como um ser humano e não como um conceito que fala. Pelo menos três amigos me xingarão por isto.

2. O Leilão do Lote 49, Thomas Pynchon
Antônio: É o mais curto e lógico dele (o Tony preocupado em me dar uma porta acessível a Pynchon).
Eu: por motivos de interesse de pesquisa (meu próximo livro se passa no século XVIII), acabei lendo primeiro Mason & Dixon, sob fortes avisos de ser um dos mais inacessíveis de Pynchon. Discordo. Talvez seja mérito da tradução, excelente. Precisei de dois meses lendo de dez a vinte páginas religiosamente todo dia pra dar conta das quase 800 páginas em letra miúda, mas foi uma das coisas mais estupradoras de mente que já li. O ritmo de desenho animado, o nonsense, as mil citações por parágrafo, era perfeito e parecia que tinha sido escrito pra mim. Daí fui ler o Leilão, comprei no original pq a versão traduzida praticamente inexiste à venda, e foi bem decepcionante. Não sei dizer o motivo, e talvez seja por questões bem pessoais: um universo setecentista delirante e caricato me é muito mais interessante do que uma interpretação paranóica da realidade com base em conspirações postais.

3. A História do Amor, Nicole Krauss OU Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, Jonathan Safran Foer
Antônio: Só para conhecer os pós-modernistas light. Ambos são deliciosos de ler.
Eu: seguem na lista de futuras leituras. Provavelmente vou ver Safran Foer primeiro, sabendo que Extremamente Alto é um dos favoritos da Lú Thomé.

4. Bartleby & Cia, Enrique Vila-Matas
Antônio: meta-literatura do catalão obsessivo! uhu!)
Eu: gostei e achei um saco ao mesmo tempo, praticamente a mesma sensação que tenho lendo texto teórico. Pelo menos rendeu uma ou duas anotações interessantes no meu caderninho. Mas acho que pega mal dizer que não se curte Vila-Matas hoje em dia, então vou ficar quieto no meu canto.

5. Eles eram muitos cavalos, Luiz Ruffato
Antônio: dos novos escritores brasileiros, esse é dos melhores.
Eu: fico devendo. Não li nada ainda do Ruffato, mas tá na minha lista.

6. O Animal Agonizante, Philip Roth
Antônio: é meu favorito do Roth, mas se tu já leu outras coisas dele, não dê prioridade para ele.
Eu: Tenho uma antipatia irracional baseada na sensação de que provavelmente não vou gostar de Phillip Roth embora ok, todo mundo gosta. Então, cedo ou tarde, vou ler ele. Mas agora não.

7. Moby Dick, Herman Melville
Antônio: se a minha recomendação não é suficiente, pense que é o livro favorito do Cormac McCarthy
Eu: Devo agradecer eternamente ao Tony pela indicação. Sempre que penso numa forma rápida e simplificada de ilustrar o impacto que a leitura de Moby Dick teve em mim, me ocorre dizer que Melville escreve parágrafos em widescreen (sim, quase todas minhas relações com a ficção nascem intermediadas por imagens, e com música então nem se fala). Tem algo quase cósmico percorrendo o livro e a obsessão de Ahab.

8. Fup, Jim Dodge
Antônio: clássico da contracultura. Uma delícia de ler e muito curto.
Eu: continuo ignorante de quem seja Jim Dodge e nunca ouvi falar desse livro, falha minha. Vou esperar que alguém mais me fale desse livro antes de ir atrás. Sorry, Tony.

9. Ruído Branco, Don DeLillo
Antônio: meu favorito do DeLillo. Mas se tu já leu outras coisas dele, ignore.
Eu: na fila. Já sei até de quem pedir emprestado.

10. Café da Manhã dos Campões, Kurt Vonnegut
Antônio: rio só de lembrar de trechos.
Eu: acabei optando pelo Matadouro 5, sei lá por quê motivo. Mas não li ainda, o livro me encara do topo da pilha da escrivaninha todo dia.

11. O Cavaleiro Inexistente, Ítalo Calvino
Antônio: grande influência para o Areia nos Dentes: escancara o poder do narrador.
Eu: é muito raro um livro me fazer rir. Michael Chabon me fez rir, e Pynchon de vez em quando. E gargalhei alto em várias partes desse, o que foi particularmente constrangedor quando lia no ônibus. Me ocorre um episódio de Animaniacs: Agilulfo é Yakko, Gurgulu é Wakko e Bradamente é Dot. E o Tony tem razão quanto ao narrador: acabei me decidindo por dar voz ao narrador do meu próximo livro depois de ler esse aqui.

12. Cloud Atlas, David Mitchell
Antônio: esse é enorme e dificílimo. é só para "sobrando tempo". pós-modernismo ultra-cerebral e intricado. gosto mais que os livros do foster wallace.
Eu: sim, e não tem traduzido pro português (e tão cedo não será, ao que parece). A idéia de ler um romance tido como dificílimo em língua estrangeira me intimida um pouco, embora tenha lido Burroughs mês retrasado e a coisa fluiu bem. Mas esse pode esperar mais um pouco.

5 comentários:

Milton Ribeiro disse...

Tenho algo a dizer ou uma piada a contar sobre quase todos os itens, mas vou apenas fazer referência a um ou dois pontos (já vi que costumo discordar do Sr. Antônio):

1. Auster... (bocejo)

2. O livro DEFINIDOR, o livro-chave de Pynchon é V., penso. Tudo deriva dali e... bem, há bastante lógica, sim. Eu leio alguma lógica, nem que seja distanciada de 200 páginas! SEmpre achei que Th P era um problema de memória.

4. Vila-Matas dá boas, excelentes entrevistas. E é bom, quero dizer, legalzinho.

5. Gosto do Ruffato.

6. Hum... Obra-prima de Roth? Só Counterpoint (O Avesso da Vida). Esse sim devias ler. E já. Agora! :¬)))

7. Adorei tua frase widescreen. Muito de acordo.

9. Ruído Branco é boníssimo.

Até que não discordei tanto do Tony.

Adiós.

Leonardo Tissot disse...

Eu tenho o Fup, se quiseres. Dá pra ler em uma noite.

Samir Machado disse...

Milton: V vai vir depois do Arco-Íris da Gravidade, que já tenho em mãos, emprestado. Quanto ao Roth, vou postergar até me decidir por qual livro é melhor me iniciar nele. Valeu pela dica, levarei ela em conta.

Léo: valeu, vou querer emprestado sim. Manda pela Karla.

Tuma disse...

Entendo sua decepção com o Lote 49, pq tive algo parecido com Vineland. Tinha tido experiência recente com O Arco-Íris da Gravidade, e fui praquele, mas perto desse monstro qualquer coisa emapalidece.

Daí um tempo depois li Lote 49 e fiquei extasiado. Não é Mason & Dixon, nem Gravity's Rainbow, mas é Pynchon em seu melhor.

Abraço,

Samir Machado disse...

Poisé, e eu li o Lote 49 no original em inglês também, e acho que muita coisa se perdeu. Meu inglês tem dado pro gasto pra muita coisa, ams com Pynchon foi meio truncado.

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