quinta-feira, 3 de junho de 2010

Algumas leituras recentes

A verdade é que não me sinto muito a vontade para escrever sobre os livros que leio e de que gosto ou não. Pelo simples motivo de que, na maioria das vezes, um livro me agrada ou desagrada por razões tão pessoais e pouco racionais, que não tenho fôlego nem intenção de desenvolver uma linha de pensamento semi-acadêmica do tipo “por quê esse livro é bom” ou “por quê esse livro é ruim”. E fico mais constrangido ainda de dizer que li e não gostei do livro de autores que ainda estão vivos, acessam a internet e podem vir a me odiar por não ter curtido o livro deles – afinal, nunca se sabe, não gosto de ser odiado (e conheço quem goste) e não faz meu estilo criar polêmica. Por isso prefiro falar, resumidamente, de alguns livros que foram leituras recentes minhas e de que gostei e, caso alguém leve a minha opinião a sério, eu recomendaria a leitura.

O cavaleiro inexistente | Ítalo Calvino | Me pegou pelo ritmo de desenho animado, que me faz pensar num episódio metalingüístico de Animaniacs onde Yakko, Wakko e Dot bem poderiam ser Rambaldo, Gurdulu e Bradamante.

Um homem só | Christopher Isherwood | É o livro que originaou o filme A Single Man (recomendo). Em vários momentos da primeira metade me ocorreu que o livro fazia muito melhor o que eu tentei fazer no meu próprio livro, em dar forma pra um personagem ranzinza e amargo. Mas nesse caso, o filme se saiu melhor que o livro, em termos catárticos. Pra mim, narrativa sem catarse é coito interrompido.

Fup
| Jim Dodge | Tem, sem trocadilhos, todo o pathós de uma HQ de Carl Barks, e não digo isso pela presença de patos ranzinzas nas obras dos dois autores, mas pelo olhar desconfiado com a tecnologia e a vida urbana e a visão irônica sobre o mito do self-made man. Me pegou de jeito.

O Centésimo em Roma | Max Mallman |O tipo de aventura histórica que o livro de Mallman propõe é tão pouco praticado por autores brasileiros que só a iniciativa já valeria por si só, mas o livro tem bem mais a oferecer. Se tem algo que eu respeito é uma pesquisa histórica bem feita, e Mallman fez a lição de casa, dando um realismo ímpar pra uma história que, tivesse o Brasil um mercado cultural de primeiro mundo, já estaria sendo adaptado pro cinema.

The Wild Boys: a book of the dead | William Burroughs | Primeira incursão na obra de Burroughs, atraído pela promessa de um mundo pós-apocalíptico com cidades-estado e gangues adolescentes subversivas praticando formas extremas de sexo e violência. No final das contas o livro não é nada disso, ou, melhor dizendo, até tem um pouco disso, mas o cerne do livro, se é que existe um, é o fluxo de consciência que tranforma tudo num grande pesadelo homoerótico-apocalíptico sobre o medo do velho pelo novo, e o fim da sociedade pelo hedonismo. Leitura Level Up. Não sei se alguma vez foi lançado em português, procurei e não achei. Curiosamente, depois fui atrás do Almoço Nu, e tô achando esse outro um porre.

Nenhum comentário:

AddThis