quarta-feira, 25 de abril de 2012

Le Chevalier de Balibari

Não tenho problemas com clássicos (partindo do pressuposto que alguém tenha, e acho que muitos têm mas não admitem) da mesma forma que não tenho com literatura comercial, mas ainda assim me sinto na necessidade de explicar porquê escolheria, no catálogo dos livros infinitos disponíveis ao longo da eternidade, Barry Lyndon, um livro que não me parece ser muito comentado (exceto por ter gerado aquele filme-pintura lindo do Kubrick) nem é apontado como o mais importante do seu autor, William Makepeace Thackeray (no caso, seria A Feira das Vaidades, que gerou um filme esquecível estrelado pela Reese Inverno-Colher). Mas romance picaresco é um gosto meu adquirido pós-Quixote, e século XVIII um interesse de trabalho (é a época em que se ambienta meu próximo livro), então me pareceu uma leitura adequada para férias na beira da praia.


Então, passei aqui para dizer que é um livro divertidíssimo, extremamente bem-humorado, o oposto do filme do Kubrick, que é sisudo, e impressionou-me o quanto um complementa o outro. Barry Lyndon é a história de um patife, mais do que isso, de um grande babaca de sua época, interesseiro e pomposo, mas é narrado pelo próprio, em primeira pessoa e segundo sua versão dos fatos, de forma que tenta justificar e abrandar sua própria amoralidade enquanto um editor tenta, via notas de rodapé, alertar o leitor de que o narrador está enfeitando os fatos. O livro é de 1844, o que me coloca então que notas de rodapé metalingüísticas são não devem ser nenhuma novidade pós-moderna, portanto (pensei que fosse, sou ingênuo).

É interessante que o filme, enquanto fiel ao livro em quase tudo (o final difere, não há duelo), ao tirar o elemento da narração em primeira pessoa, atenta-se aos fatos crus, e sem o humor involuntário da pretensão pomposa de Barry de “seguir com sua vida de homem elegante”, o que lhe resta é um retrato patético de um sujeito fútil e superficial cujo egoísmo e sede por status o impede de ter empatia por quase todos, exceto o único filho.

Espero que hora ou outra surja uma edição nova (a minha é do Círculo do Livro, adquirida meio ao acaso num sebo), pra poder comprar para dar de presente à alguém.

Um comentário:

Bruno P. disse...

Na verdade, o filme do kubrick é extremamente ironico. ha uma sutileza na narração, enquanto uma afetação dos costumes e atos dos personagens. talvez revendo o filme, de para perceber como tudo é maquinalmente controlado e afetado, desde a fala do narrador em off, quanto açoes das personangens. se puder, reveja a cena em que redmond ofende o capitao que casa com a prima dele, e a reaçao do capitao.
abraço

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