segunda-feira, 30 de julho de 2012

Encerrando Bond

Em acréscimo aos catorze livros da série, fez parte da minha maratona também a leitura de The James Bond Dossier. Um ltanto raro, que Kingsley Amis escreveu em 1965 movido em parte por sua admiração da obra de Fleming, e em parte como provocação acadêmica - Amis queria dar o mesmo tratamento sério que a academia geralmente dedicava à Alta Literatura para uma série de livros considerados como literatura comercial e menor.
O livro se destaca pelo tom bem-humorado, analítico e de mente aberta com que aborda a obra de Fleming, seus pontos fracos e seus pouco reconhecidos pontos-fortes. Muito das minhas opiniões sobre os méritos dos livros que expus nos post anteriores foram, de certa forma, direcionadas pela visão aberta por Amis (alguém já publicou por aqui Lucky Jim?).
Os capítulos dividem a análise em torno dos principais totens da série: as relações de Bond com as mulheres, o chauvinismo de Fleming, o padrão de comportamento dos vilões, comida e bebida, o efeito Fleming” enquanto estilo, com o uso de informações precisas sobre temas obscuros , a relação pátria-e-pai com M.
Há ainda três apêndices avaliando temas : a ficção científica em James Bond, o sadismo, e o escapismo, alem de um gráfico que planifica treze livros da série (o décimo-quarto, Octopussy and the Living Daylights, não havia sido publicado ainda) em categorias: vilão, mocinha, lugares visitados, capangas, plano maligno e pontos altos narrativos. Até onde sei, esse livro não teve edição em português.

Abaixo, encerrando essa série de posts,  seguem algumas listagens e coisas curiosas que descobri nos livros.

Top 5 Melhores livros da série:
1. Moonraker: um momento de virtuose no subgênero “literatura de ação”, um vilão sensacional e o retrato mais humano de Bond.
2. Cassino Royale: por servir de introdução à série, e trazer dois momentos memoráveis: o jogo de cartas e a tortura com o batedor de tapetes.
3. Dr. No: a ilha de Crab Key, o vilão sádico, a mocinha meio selvagem e a longa maratona de sobrevivência, fazem desse o mais pulp dos livros da série.
4. On Her Majesty Secret Service: literariamente, o mais refinado, o melhor anticlímax, um plot bem elaborado e um vislumbre na vida privada de M.
5. Goldfinger: Apesar de repetir elementos de Moonraker, são tantos bons momentos reúnidos aqui, que tornam o livro um dos mais emblemáticos da série.
Menções honrosas: From Russia with Love tem alguns escorregões, mas a segunda metade é cheia dos melhores momento de Bond, eo livro traz dois dos melhores vilões da série; já The Man with the Golden Gun, à parte seus saltos temporais estranhos, é eletrizante como narrativa de ação.

Top 5 melhores vilões:
1. Hugo Drax: o megalômano
2. Dr. No: o sádico
3. Red Grant: o psicopata
4. Scaramanga: o doppenganger
5: Rosa Klebb: a velha feia

O que aconteceu com cada Bond-girl
Diferente dos filmes, onde Bond esquece a mulher do filme anterior como se nunca tivesse existido, o Bond literário é sentimental o bastante para guardar lembranças de seus amores passados:
1. Vésper Lynd (Cassino Royale): em A Serviço Secreto de Sua Majestade, é revelado que Bond visita seu tumulo anualmente.
2. Solitaire (Live and Let Die): Bond lembra dela ao retornar à Jamaica em Dr. No, embora não saiba mais seu paradeiro.
3. Gala Brand (Moonraker): a única a já ter uma carreira (e noivo), casa-se com outro ao final do livro, sem sequer ser seduzida por Bond.
4. Tiffany Case (Diamonds Are Forever): em From Rússia with Love, Bond revela que moravam juntos até pouco tempo, mas confessa ser difícil de lidar e, entediada com a vida em Londres, Tiffany volta para os EUA com outro, deixando Bond coçando os chifres.
5. Tatiana Romanova (From Rússia with Love): nada é dito sobre seu destino, embora, no mesmo livro, os russos previam que ela fosse presa e depois liberada sem grandes problemas.
6. Honey Rider (Dr. No): em The Man with the Golden Gun, é revelado que Honeychille casou-se com um medico americano e teve dois filhos.
7. Jill Masterton (Goldfinger): continua morta.
8. Tilly Masterton (Goldfinger): continua morta.
9. Pussy Galore (Goldfinger): não é mais mencionada.
10.  Melina Havelock (For your eyes only): não é mais mencionada.
11. Domino Vitali (Thunderball): não é mais mencionada.
12. Vivienne Michel (The Spy Who Loved Me): não é mais mencionada.
13: Tracy Bond (On Her Majesty Secret Service): Bond mantém um luto autodestrutivo no livro seguinte, You Only Live Twice, e ainda mantém pensamentos por ela em The Man with the Golden Gun.
14. Kissy Suzuki (You Only Live Twice): nada é dito do destino dela, mas é a única Bond-girl a engravidar de James Bond.
15. Mary Goodnight (The Man with the Golden Gun): já está presente na série desde On Her Majesty Secret Service como nova secretária de Bond, e se faz presente ou mencionada me todos os livros até o último, onde está transferida para Kingstom, na Jamaica.

Detalhes que nunca chegam aos filmes
• Bond mora num flat em Kings Road, no bairro de Chelsea, e sua governanta é uma velha escocesa chamada May.
• Bond perdeu sua virgindade aos dezesseis anos em Paris, com uma prostituta, segundo o conto A View to a Kill.
• Em algum dos livros, a essa altura já não lembro qual, fica claro que Bond, quando viaja, coloca seus gastos com bebidas e comidas extravagantes na conta da firma (e o pessoal da contabilidade que se dane).
• Embora seja mais associado ao Dry Martini, a bebida que Bond mais bebe nos livros é champagne.
• Ao contrario do que é geralmente mostrado nos filmes, Bond detesta missões de assassinato e em From Russia with Love, claramente diz que nunca matou ninguém à sangue-frio.
• Alguns dos melhores amigos de Ian Fleming, e incluindo seu próprio editor, eram gays, mas segundo o autor, o público para o qual escrevia era de “heterossexuais de sangue-quente”, como justificativa para os preconceitos de seu personagem (que, provavelmente, especulo, eram do próprio autor).
• O carro pessoal de Bond é um Bentley Continental Mark II, Apenas em Goldfinger ele usa um Aston Martin, a serviço, provido de um rastreador.
• Em Moonraker, Bond usa benzedrina com champagne, para ficar mais “focado” no jogo de cartas que está por vir.
• Nos livros, é estabelecido que a sessão 00 conta com apenas três agentes de cada vez, sendo eles 008 (a que Bond refere-se como Bill, e com o qual apostou que pegaria a secretária primeiro), e 0011 (que, em Moonraker, está desaparecido em serviço). Em On Her Majesty Secret Service é mencionado um agente 006, militar da marinha, o que nos leva a crer que 0011 nunca voltou de sua missão. Na maior parte dos livros, a secretária do setor 00 é Loelia Ponsonby (nos filmes, coube a Moneypenny, a secretária de M, manter a relação vai-não-vai com Bond).

Por último, uma lista de James Bonds favoritos do cinema, apos a leitura da série de livros, seria nessa ordem:
1. Daniel Craig: é o ator que melhor pegou o espírito de violência crua e atormentada dos livros.
2. Sean Connery: o Bond de Connery é mais uma criação cinematográfica que de Fleming, ainda assim, é o paradigma de estilo e finesse que o livro fundamenta mas os filmes estabelecem.
3. Timothy Dalton: antes de Daniel Craig, o mais perto que os filmes haviam chegado do personagem literário.
4. George Lazemby: mais um filme ou dois, ele teria se tornado um Bond tão bom quanto Connery. Plus: até Craig, era o único dos Bonds que demonstrava medo e incerteza, ou seja, parecia um ser humano, e não um superman infalível.
5. Pierce Brosnan: por mais que goste de Goldeneye, nos últimos filmes os roteiros já o estavam transformando num sucessor de Roger Moore.
6. Roger Moore: para mim, está para James Bond como Adam West para o Batman. Alem do mais, é difícil acreditar que Moore fosse capaz de matar alguém.

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